Mudar de cidade nunca é algo fácil, ainda mais quando você precisa arrumar um emprego novo e fazer novas amizades, mas tudo parece estar caminhando bem na vida de Heloísa. Ou não.
Heloísa e Guto estão casados há seis anos e ela sempre fez de tudo para que tivessem um casamento perfeito, dos sonhos. Porém, ela sente que nada se encaixou como deveria e sente que se perdeu ao longo do caminho.
Além dos afazeres de casa e de suas aulas de História, Heloísa gostaria de ter mais tempo para fazer coisas de que gosta, assim como devorar um livro como fazia na adolescência.
E é quando ela descobre um panfleto de um clube de livro perdido na biblioteca onde trabalha e que irá lhe ajudar a enxergar a vida de uma outra maneira e que pode causar mudanças maiores do que ela esperava.
"Quando há uma mágoa e você não sabe como consertar, o tempo não espera até que você aprenda; as pessoas começam a se distanciar, mesmo aos pouquinhos, e depois não sabem mais como se reaproximar. Não quer dizer que não se importem, às vezes só não sabem como." (pág. 34)
"Vivendo nas entrelinhas" é o romance de estreia da Juliana Cirqueira e desde que soube da obra, fiquei curiosa para conhecer um pouco mais sobre sua escrita e toda a trama que me despertou muito interesse.
Logo de cara, consegui me identificar com a personagem. Heloísa está sempre buscando fazer o melhor para as pessoas e acredito que isso seja uma característica muito comum (e até mesmo boa) em muitas pessoas. Mas nesse caminho, ela acaba se colocando em segundo plano, principalmente quando os planos do marido são mais importantes.
Guto é advogado e está tentando um cargo maior. Ela é professora e está feliz com a profissão que escolheu. Por que as coisas deles deveriam ser mais importantes do que as delas? Por que somente ele quer comemorar uma conquista, seja uma promoção ou não, e ela não pode comemorar as pequenas coisas do seu cotidiano? Tudo isso me fez questionar ao longo dos capítulos.
"É tão difícil encontrar concentração quando seus sentimentos estão à flor da pele." (pág. 87)
E é claro que não consegui criar nenhum vínculo com Guto. Ele é aquele personagem que não engana e não ganhou a minha empatia. Por outro lado, queria acolher Heloísa em muitos momentos, principalmente por estar passando por situações delicadas e até mesmo tóxicas. Isso é algo que realmente fica nas entrelinhas, mas é bem visível ao longo da trama.
A mudança na vida de Heloísa após o clube do livro mostra o quanto essas obras são capazes de nos salvar em diversas situações. Posso afirmar que livros me mostraram um mundo completamente diferente, me fizeram acreditar no amor verdadeiro e me tornei quem sou hoje. E foi exatamente da mesma forma com a personagem: ela se reencontrou e descobriu muito mais do que esperava.
Minha única ressalva com relação à obra é que achei os capítulos finais um pouco corridos. Toda a trama acontece lentamente, mostrando o cotidiano desse casal, mas após algumas revelações, tudo passou de uma forma rápida, assim como o epílogo. Senti falta de explicar alguns pontos ali narrados já que existem algumas informações bem bacanas por lá.
"Você não deve se anular, nunca, e se um dia precisar escolher entre você e os outros para ser feliz, escolha você. Os outros até podem te fazer feliz, mas você precisa se fazer feliz primeiro." (pág. 131)
De qualquer forma, "vivendo nas entrelinhas" é uma boa história. Mostra a importância da literatura em nossa vida, em como devemos sempre ficar atentos aos pequenos sinais em nossa volta e que mesmo que a gente se perca no meio do caminho, precisamos sempre encontrar maneiras de nos reconectar com nós mesmos e que tudo vai ficar bem.
Título original: Vivendo nas Entrelinhas
Escritora: Juliana Cirqueira
Editora: Outro Planeta
Páginas: 256
Ano: 2022
Gênero: romance
SINOPSE
Tudo vai bem na vida de Heloísa. O casamento, a mudança para outra cidade, o emprego novo, os amigos.
Mas, se está tudo bem, por que ela sente que nada se encaixou como deveria? Ou talvez seja ela quem deva se encaixar. Sendo um ou outro, há um crescente sentimento de que algo se perdeu no caminho.
Casada há algum tempo com Guto, Heloísa é uma professora de História que gostaria muito de ter mais tempo para fazer coisas de que gosta. Dividida entre as preocupações do trabalho e as demandas de seu relacionamento, tudo o que ela mais quer é conseguir devorar livro atrás de livro, como fazia na adolescência. É então que descobre um clube do livro por um anúncio esquecido entre as páginas de um livro da biblioteca da escola. Indecisa, mas curiosa, permite-se uma jornada de autodescobertas a partir da literatura.
Ela sabe que não é normal o incômodo que sente por atitudes de Guto e por ter seus planos e sonhos relegados a um segundo plano.
Agora, com a ajuda de novas e velhas conexões, Heloísa tem a chance de compreender o que falta para si, ainda que isso possa causar uma ruptura muito maior do que ela esperava.
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